3 de novembro de 2010

O Som de CF

Qual é o som mais conhecido dos caminhos-de-ferro para lá dos das locomotivas a vapor?

Tim tim, tim tim...

Certo. O tilintar dos carris é, sem dúvida, um dos sons mais mágicos dos caminhos-de-ferro. Podem ser realmente monótonos quando vemos um super comboio americano a passar em frente a nós, sempre com o mesmo tipo de vagão, como podem fazer uma verdadeira orquestra de ritmos e tinidos quando viajamos a grande velocidade numa adorável Sorefame.

Estudá-los é também incrível. Parece estranho usar o termo estudar mas, na realidade, este género de sons são um verdadeiro fenómeno ferroviário que vale a pena ser conhecido, para se poder apreciar melhor.

Certas pessoas reparam neste som... tim, tim... tim-tim... e não sai disto. Uns ouvem um som curto e repetido vezes e vezes sem conta e já dizem que é uma "bomba de um som". Bem pessoal, mas isso nem sequer é a ponta do iceberg... Para se ter uma verdadeira apreciação destes sons, é necessário ter em conta os diferentes tinidos, as peças ferroviárias que os provocam e as características do bogie que circula sobre a via.

Eis aqui o estudo que elaborei:

Ir para uma linha renovada? MÁ DECISÃO!
Estes sons são puramente ouvidos em linhas não renovadas com carril curto geralmente ligado por juntas de barras de conexão.

Os sons são sempre iguais?
Não. Existem duas categorias na classificação do som.

Primeiro temos de ver qual a origem. O som do carril pode surgir de duas fontes: Uma junta de carril ou uma secção de via mal apertada.

- As juntas fazem som quando a roda do comboio choca com o carril seguinte. (Imagem A) O som será mais forte quanto mais forte for o impacto com o carril seguinte e o impacto depende da velocidade a que o comboio vai, o seu peso e o desnível que o carril seguinte tem em relação ao anterior. Se o carril seguinte estiver muito baixo, a roda cai nele e ouve-se um tim baço. Se o carril seguinte estiver muito alto, a roda vai choca nele, então vai-se ouvir um tim mais violento.
O som poder-se-á ouvir mais de um lado que do outro da carruagem, dependendo de onde a junta estiver colocada, se no carril direito, se no esquerdo ou se em ambos os lados no mesmo sítio.

- As secções de via mal apertada são partes onde o carril não está bem fixado à travessa verticalmente. Isto não é perigoso uma vez que os tirafundos (parafusos) só têm de necessariamente prender o carril longitudinalmente e latitudinariamente. Os carris presos apenas por tirafundos não fazem este som, mas os que são fixos por um conjunto de tirafundo e placa metálica (Imagem B) fazem um som simplesmente espectacular, que fazem lembrar orquestras de percussão metálica a bater muito rapidamente (pratos, vá...). Quando vistos de perto, estas placas metálicas vibram quando o rodado desliza sobre o carril.

Segundo temos os bogies e o material circulante. O som irá variar por muitas razões, mas vou apontar as mais óbvias para vocês perceberem.

- Quanto maior é o peso por eixo (isto é, quanto mais pesada é a/o carruagem/vagão) mais abafado é o som. Isto se deve ao facto de o carril mal poder vibrar por se estar a aplicar uma enorme pressão sobre ele.

- O número de "tins" que se houve depende dos conjuntos de rodados do comboio e da proximidade entre juntas de carril. Poder-se-á ouvir um tilintar igual e bem marcado, ou um tilintar desorganizado ritmicamente.

- Tintintintintintin... As rodas facetadas fazem eles próprios um tilintar constante. Material com rodados por tornear ou com rodados de metal que se desgastam muito facilmente têm tendência a formar faces que batem quando se alinham paralelamente com o carril. É um som constante e repetido sem pausas. É o que dá, na gíria ferroviária, o termo "martelos" aos comboios de mercadorias e às antigas UTE.


Esperam que usufruam melhor da vossa experiência sonora na vossa próxima viagem de comboio! Fica também aqui um ficheiro de GE que mapeia alguns troços com estas características:

Imagem A


Imagem B